quarta-feira, 4 de março de 2015

Resignação


BOTE SUA PAMPERS E... CONVIVA...

Toda noite eu me submeto ao mesmo ritual.

Jantar à luz. Alongamentos. Olhares em frente ao espelho do banheiro. Eu só tenho a mim mesmo. Bem, o que restou de mim - um sótão cheio de teias de aranha que costumava ser um cérebro estudioso. Estou sozinho agora. Estou sozinho em uma multidão, e pela primeira vez eu entendo como é se sentir desta forma. Eu posso vê-los em torno do luar. Aqueles cambaleantes corpos despedaçados que se arrastam ao longo da calçada. Eu não sei o que causou este "Apocalipse Zumbi", mas sei que isso aconteceu muito rápido e com certeza estou preso neste inferno. Sabe, às vezes eu acho que sou o único ser humano vivo. O presença estática que possui a televisão e a rádio argumentam a favor desta minha teoria, assim como a completa falta de informações da mídia e de comentários na internet.

Você sabe, antes da energia cair de vez. "Você pode fazer isso." Eu aponto para o reflexo. "Você é rápido. Mais rápido do que eles. Você é mais esperto. Você ainda pode escolher. Ainda pode sentir."

Eu coloco para fora todas as dúvidas que me fazem lembrar das outras tentativas. Todas as outras noites em que fiz a mesma coisa e nunca encontrei o que eu estava procurando. Logo estou do lado de fora. Meu tênis bombeia loucamente enquanto eu sigo o meu caminho através da grama alta do meu próprio jardim. Eles me vêem ou me ouvem, ou seja lá o que os levou a um frenesi. Talvez seja o cheiro, embora eu não ache que seja pior do que o deles. Eu não tomo banho há meses.

"Você pode fazer isso!" Reafirmo a mim mesmo. Seus apodrecidos pés agitam-se, trincando-se contra o chão, quase como um eco sombrio de minhas próprias pisadas. As dúvidas estão me ultrapassando. Eu sou mais rápido, eu sou mais inteligente, mas eu nunca vou conseguir encontrar o que preciso. O surto... se é que realmente foi um... foi tão rápido. Todo mundo estava morto, e em seguida, morto-vivo. Tão rápido. Eu sei que isso não vai funcionar, mas eu tenho que tentar mais uma vez.

Eu enfrento um dos corpos cambaleantes lançando-o no chão, enquanto ele solta um gemido frenético. Eu forço meus dedos entre seus dentes e sinto a dor aguda que penetra aquilo do qual eu me tornei imune. "Vamos, desgraçado!" Eu grito em fúria, "Me torne um de vocês! Eu não quero ficar sozinho!"

À distância, o resto de sua espécie continua sua caminhada pela escuridão.



Fonte: Lua Pálida

...CONVIVA COM A VERDADE...

QUE SEUS PESADELOS SE TORNEM REAIS

BOA NOITE

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